Seja bem-vindo à mística cidade de pedras!
São Tomé das Letras é considerada um local sagrado. Os moradores do lugar garantem que estão constantemente em companhia de seres extra-terrestres. Todos os cultos e credos convivem em São Tomé. É gratificante conversar com os moradores com suas histórias extraordinárias. Mas quem sabe se são verdadeiras mesmo? A explicação mais ouvida para tanto misticismo é porque a cidade foi construída em cima de uma rocha de quartzito que armazena energia cósmica e telúrica. São Tomé é considerada uma das sete cidades sagradas do mundo.
A cidade é simples e rústica. Tem pouco mais de 6.000 habitantes. Como a região fica em cima de uma grande formação rochosa tudo é feito a base de pedra, desde as ruas, casas e igrejas. O clima é frio, devido a altura. Mesmo no verão é conveniente levar vários agasalhos para a noite.
Um dos principais atrativos é a subida até a pirâmide, no lado alto da cidade. Trata-se de uma construção sobre uma rocha e ninguém sabe ao certo quem a construiu. Dizem até que foi feita para pouso de óvnis. Mesmo que você não acredite nessas histórias, vale a pena conferir mesmo que seja pela vista: um espetáculo, principalmente no por-do-sol.
Outra vista fantástica da região é no Cruzeiro, uma grande cruz no topo de uma montanha, de onde se tem uma visão panorâmica de toda a região.
Durante o dia, uma boa opção é curtir as cachoeiras, como a bela Vale das Borboletas, que recebeu este nome devido a centenas de borboletas coloridas passearem por lá, principalmente durante a primavera. Outra bela cachoeira chama-se Eubiose e fica pertinho, a cerca de 3km . Saindo um pouco da luz do dia, vale explorar a Gruta São Tomé, onde diz a lenda, o próprio santo teria escrito algumas palavras.
A cidade possui vários restaurantes com culinária caseira, tipicamente mineira no fogão à lenha, massas, self-service e até vegetariana. São Tomé é a cidade das lendas, dos misticismos, das pedras e paisagens infinitas onde um povo alegre e simples nos faz esquecer de qualquer problema do dia-a-dia.
Um pouco de História
João Antão, escravo da Fazenda Campo Alegre, resolveu fugir e se esconder em lugar seguro após descoberto um caso que tinha com a irmã de seu senhor. Abrigou-se então em uma gruta no alto da serra, alimentando-se de frutos e raízes, caça e pesca. Certo dia, apareceu ao escravo um senhor de vestes brancas, que lhe escreveu um bilhete, dizendo-lhe que entregando ao seu amo, este o perdoaria. Ao ler o bilhete o fazendeiro lhe ordenou que o levasse até a gruta. Lá chegando encontraram em seu interior uma imagem de São Thomé, entalhada em madeira. Por ser de profunda religiosidade, João Francisco Junqueira levou a imagem para a sua casa. Esta, por sua vez, sumiu e reapareceu na gruta; e assim por várias vezes. Acreditando ser um milagre, o fazendeiro mandou erguer uma capela onde mais tarde (1785) foi construída a Igreja Matriz. O senhor de vestes brancas acredita-se que era o próprio São Thomé.
Misticismo: Você acredita em OVNIS?
Seus mais antigos moradores parecem não entender o que atrai tantos visitantes e seguem suas vidas despretensiosamente, tentando ser indiferentes ao frenesi dos turistas que chegam de todas as partes, principalmente nos finais de semana e feriados prolongados.
Visitantes mais insólitos também têm presença garantida dentro deste mosaico que forma a mística São Thomé. Várias aparições de OVNIs e/ou contatos telepáticos, inclusive com intraterrenos, foram experimentados por estudiosos e esotéricos, que buscam na paisagem montanhosa o cenário perfeito para essas manifestações. Para Oriental Luiz Noronha, que estuda o misticismo da região e mora em São Thomé, o pico das aparições se deu em 1982 e 1986. Ele mesmo relata um em livro o contato com extraterrestres, além de ter documentado algumas aparições em fotos e vídeo.
Muitos grupos esotéricos têm sede em São Thomé das Letras, compartilhando a crença de que a cidade tem uma energia especial e será testemunha de grandes transformações na virada do novo milênio: o advento da era de aquário. São Thomé é um dos sete chacras (pontos de entrada e saída de energia) do planeta, que atualmente estão vibrando em 8 cidades do sul de Minas. Além da Eubiose, existem também outros grupos de estudiosos e místicosna região: Fundação Harmonia, Movimento Gnóstico, Imagick, dentre outros.
Há quem diga que é preciso separar o que pode ser verdade daquilo que é pura mentira, imaginação ou ilusão. Esta afirmação parece até lógica a quem nunca visitou a cidade, aos que voltam ou resolvem ficar nesta pacata cidade resta a pergunta: será que isto é realmente possível em São Thomé das Letras?
Lendas e Histórias
No que diz respeito ao surgimento da cidade, a lenda corrente diz que o escravo João Antão, após fugir da fazenda Campo Alegre, da família Junqueira, se refugiou em uma gruta. Lá passou alguns anos, se alimentando de frutas, da caça e da pesca, fartos naquela segunda metade do séc. XVIII. As razões da fuga não são bem esclarecidas, uns afirmam ser pelos maus tratos e outros defendem que o escravo mantinha um caso com a irmã do proprietário da fazenda, João Francisco Junqueira, que mandou matá-lo.
Seja como for, certo dia um velho muito apessoado e de vestes brancas apareceu diante de João Antão e, após ouvir sua história, lhe entregou uma carta. Recomendou ao escravo que a deixasse com o patrão e assim seria perdoado. A ordem do velho foi acatada. Ao ler a carta, Junqueira ficou impressionado com a boa caligrafia, redação e qualidade do papel, fatores inusitados naquele tempo. Além de perdoar João Antão, o fazendeiro organizou uma visita à gruta, na esperança de encontrar tal velho. Chegando lá a única coisa que encontrou foi uma imagem em madeira que acreditaram ser do apóstolo São Thomé.
Ao lado dessa gruta o capitão Junqueira mandou elevar uma construção que viria ser a Igreja Matriz (1785), com a pintura do teto hoje atribuída a José da Natividade, discípulo de Aleijadinho. Há quem diga que a construção da Igreja se deve às frustradas tentativas do capitão em levar a imagem para a fazenda. Como que por encanto ela sumia e só era reencontrada na gruta.
Na gruta de São Thomé, onde foi encontrada a imagem do santo, ainda podem ser vistas algumas inscrições rupestres indecifráveis, meio apagadas pelo tempo. São esses desenhos os responsáveis pela denominação "das Letras". Como não poderia deixar de ser, são também alvo de controvérsias. Provavelmente foram feitas pelos índios cataguases, antigos habitantes da região.
Inscrições rupestres também são encontradas em outros locais como, por exemplo, nas proximidades de Shangri-lá, Vale do Canta Galo e outros. Foram pouco estudadas por especialistas, o que dá margem a todo tipo de interpretação, inclusive a de que sumérios e fenícios seriam autores de algumas delas. A imaginação vai mais alto: existe uma que lembra, sem muito esforço, a figura de um tucano, uma cobra e até mesmo um OVNI.
Onde os Deuses se escondem
Deitada sobre uma imensa reserva de quartzito, em rochas metamórficas do período pré-cambriano, São Thomé vista de longe parece uma miragem, uma montanha nevada que se distingue das demais. Isso se deve às extrações do quartzito, que descascam a montanha e deixam à mostra a rocha esbranquiçada.
Todos os anos toneladas e mais toneladas da pedra - usada em revestimentos, beiradas de piscinas etc - partem para todos os recantos do mundo, de tal forma que ela já ficou conhecida nacionalmente como “pedra de São Thomé”. O material é tão farto que serve para calçamento de ruas, passeios, no artesanato e até caracteriza uma arquitetura típica, que tanto fascinou os primeiros visitantes. A igreja Nossa Senhora do Rosário (séc. XVIII), mais conhecida como “igreja de pedra”, representa muito bem o exotismo da cidade. Infelizmente a alvenaria tem tomado conta das construções, por ser mais barata e menos úmida que as casas de pedra, o que não deixa de ser uma pena. Mais de 70% dos 5700 habitantes trabalham direta ou indiretamente com a extração do quartzito.
Na busca de uma explicação para o fascínio de São Thomé, a composição geológica, de uma forma ou de outra, é uma constante. É ela a responsável pelos encantos naturais da região: cachoeiras, grutas, inscrições e a energia que alimenta os esotéricos. Segundo Daniela Aggio, da Fundação Harmonia, o quartzito está disposto em camadas com a mesma inclinação. “Essas placas se alternam (positiva e negativamente) como as de uma bateria, gerando um campo magnético”.
As cachoeiras são um capítulo à parte. Agradam a todos os gostos e necessidades, de um simples banho a uma bela fotografia. São mais de 30, das quais se destacam a Véu da Noiva, Paraíso, Shangri-lá, Eubiose, Flávio, Vale das Borboletas, Gêmeas, da Lua etc. Quem tiver disposição pode ir até o Pico do Gavião e suas formações rochosas. O acesso é difícil e a visita restrita, uma vez que o local é área de exercícios militares.
São Thomé encanta por sua beleza e exotismo. Representa um rincão perdido no mapa, que vem sendo invadido desde que os primeiros forasteiros chegaram, na década de 70. Vieram esotéricos, hippies, ecoturistas e muitas outras pessoas. Todos em busca de um sonho especial e movidos, quem sabe, por uma crença: de que em São Thomé mito e realidade se misturam a todo momento.